As conversas faziam-se sempre debaixo da varanda do Ti Laurindo...
Era hora de sesta, andava eu a apanhar as bostas das vacas, que até são poucas, hoje em dia. Aqulo até fazendo uma cuidada e demorada análise até é mais palha do que outra coisa, tornando o visual até interessante; há uma mais bonitas que outras dependendo da roda que fazem ao se esparramar no chão ainda quentes.
Pois é, a conversa hoje é de bois, dos bôs!!!!
De bois se falava ali debaixo da varanda do Ti Laurindo há uns valentes anos.
Discutia-se se eram "de bérias" da raça Pinheiro ou - irmã, qual é a outra raça?, mas purinha, como a água da desactivada fonte lá de cima, onde se lavavam as roupas e onde "anadavam"os parrecos. Também havia a poça do Barroco, lá p'ros lados do Poilo,onde a canalha se "amandava"nos Domingos. Ah, e o tanque da Mindinha, mas nessa lavavam-se as tripas do reco. Eu, até ajudei a "cobrar o carambelo" e a tirar a coisa de dentro da tripa...era um ritual que tb metia o rabo da roca: o pau de virar tripas.
Tarefa muito interessante!
Mas, perdemo-nos...íamos falar de bois do intigamente. Era assunto sério!
O Ti Laurindo orgulhava.se de ter os melhores bois que levava pra Carrazedo e Chaves pra mostrar. Diz o Tó, que na noite anterior, lustrava-lhe o pêlo e dava-lhe um balde de grão. Diz assim o Tó:
"Era eu ainda pucorruchinho e gostava de ouvir o Ti Laurindo, Deus le perdoe e o tênha em bô lugar. Dizia ele, que d'hoje pra manhê, não ia haver bois na aldeia porque as terras iam ficar de poilo, iam inventar uas máquinas pra laboira mas só quem tivesse dinheiro é que as podia comprar. Tinha sempe bois de respeito, mto lustrosos, mto bem alimentados, bonitos bah."
Mas o amigo Eurico tb conta episódios engraçados e caricatos.
" Um dia, sabes ó Nando, estás a ouvir? Sabes aquela terra ali p'ros lados da Costa, havia lá um viveiro de castinheiros bravos. O meu pai e o Ti Laurindo levaram os bois junguidos, cada um os seus, pra trazerem a lenha dos castinheiros nos carro pra casa. Ó p'ra baixo e descarregados, tudo bem. Carregaram-nos de paus e "assubiram" por aquele caminho mto inclinado. Olhai, os do meu paizinho astreveram-se e chegaram cá cima cm mta fascilidade, mas os oitros do Ti Laurindo, nada. Vós não sabeis, mas vou fazer uma explicação: ele tinha uns bois mto bonitos e lustrosos, mas não serviam pro trabalho. O meu pai comprava bois velhos,mancos mas bôs pra trabalhar.. Andavam em cima das pedras ó pra baixo e ó pra cima,levavam uns canêlos , entendes ó Nando?
Atão o meu pai falou assim pro Ti Laurindo e com rezão bah:
-Ti Laurindo, não é dubaixo da varanda que se bufa "os meus bois são assim, são assado. É aqui no trabalho que se vê como é!"
O Ti Laurindo respondeu-le:
- Tens rezão home, bota cá os teus pra puxarem o meu carro inté lá cima e despois destrocam-se.
Assim fizeram, mas im chiguendo lá cima, os bois dele, mesmo a direito, botaram-se ó chão e num queriam andar....
Ó Nando, tu tamém botas gotas nos olhos? Olha, eu boto mais pra fora do que pa dentro!
Vou-me então embora, uma pessoa trabalha tanto, olhai a gente chega à noite e tem de descansar...atão bá, dorminde bem!"
Obrigada ao Tó e ao Eurico que preservam tão bem o nosso modo de falar.
E eu, que escrevi a estória, já estou cansada e vou fazer o caldo.
abraço a todos
Cá para mim os bois só podiam estar jungidos ao contrário, tal como os do Jeirinhas naquela lição do livro da 3ª classe. Bem recontada esta estória, tens que nos brindar com mais crónicas como esta, parabéns.
ResponderEliminarNuno Santos
Amiga outra historia muito fixe! Ai mulher tas recheada de talento....venha mais. Muitos parabéns!!!
ResponderEliminarObrigada, amigos.
ResponderEliminarVou ver se encontro esse livro, Nuno, está por aqui... Era uma leitura mto engraçada, é do nosso tempo.
abraço
leonor
linda historia do meu avo laurindo, o melhor avo do mundo eu lembro-me dos visinhos irem pra baixo da nossa varanda:))
ResponderEliminaro menino da foto e o meu (primo,afilhado)Laurindo?
veronique