Que há hoje?

Dedicado à pequena e grande aldeia de Amoinha Nova, concelho de Valpaços

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Era ainda pucorruchinho...

Antes de nós, havia outros, que falavam uma língua muito própria da região transmontana. Hoje, essa oralidade é privilégio de poucos.Por isso, para que as memórias não escureçam, gostamos de a registar, fazendo-o com o orgulho dos que "só conhecem os caminhos velhos, quem tem saudades da terra (expressão gentilmente roubada ao amigo Nuno Afonso usada numa das suas muitas publicações). Por isso escuitem:
Depois do cafezinho no "Jorge" e na sua visita à casa Moreiras,é um prazer ouvi-lo. É sempre uma aprendizagem e falar o português de Amoinha, que nós adoramos e respeitamos, já há poucos.
Naquela noite, muito cansado das tarefas duras da agricultura....
...Quando eu era pucorruchinho, ainda muito cedo, lebábamos as bacas po prado. Era tudo canalha, bah. Inda no tempo em que habia munta canailha, agôra semos poucos e d'hoje p'ra manhê inda bamos ser menos. Ua pessoa ó Domingo, dá uma volta por as ruas, da croa do pôbo inte ó fundo dele e bê-se alguém? Eu não!
- Claro que não, Tó!- interrompemos nós.
Ora bem, quando fala um burro... com licença de bocês - fechamos logo a boca, pois na aldeia é costume dizer que o respeito tem cabelo (traduza-se: tem que havê-lo) e respeitar o nosso amigo é um dever.
- Posso continuar, ou não? - pergunta ele. E aí vai.
Atão, lá íamos nós mais as crias. Fazíamos assim: um lubaba a grelha, oitro, uma côdia, oitro ua tira de reco pa rijar, oitro ia buscar a lenha e oitro botaba conta às crias. Era um tempo em que habia amizade entre a canailha. Agora bendes algua no prado? Nem crias, bah.
Mas um dia fui sozinho e adromeci. Quando ascordei, as bacas tinham desaparecido... o sol...já não se bia im lugar ninhum. Inda estremunhado, precurei por todo o lado e as escamungadas nem dabum sinal por a boca nem po trás.
Comecei a pensar: se bou pra casa sem as crias. o meu pai fd o lombo, e caio ali logo estantânio, se fico aqui fd à mesma. Corri atão aqueis montes inté cos topei ali ó Barroco.
Como moinho não ganha maquia, fui debágar e antro ó fundo do pôbo, e quando boto os olhos pra cima, bêjo atão o meu pai e lá os toquemos pra loije.
Dêsta bez inté que me correu bem, bah!!!
- Ó Nando, inda há luz lá fora? Bou-me lá, que amnhê tênho "escola".
António Baptista, nosso amigo de sempre, obrigada pela preservação do nosso falar.

4 comentários:

  1. Na nossa aldeia e nas outras do Concelho de Valpaços, a luz da via pública é apagada à uma da manhã, por motivos de poupança.
    abraço a todos os visitantes
    leonor moreira

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  2. ahahaahah aind ame estou a rir com essa do lombo ahahahahah fixe mt fixe os texto.

    Lula

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  3. ah pois se bai pra caza sem as bacas ai cinto que trabalha no lombo do home !!
    parabéns pela historia ta bem contada...

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  4. Obrigada amigos, o mérito é todo do amigo Tó.
    Atenção à expressão "escola" usada para dizer que há trabalho.
    abraço
    leonor moreira

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