domingo, 16 de outubro de 2011

Estamos em crise...

Antigamente, era a almotolia!

Muita canalhada de hoje desconhece este termo usado outrora para se encher de azeite e regar as boas "canibeques" cozidas no pote.
A mulher, que acordava o galo para ele cantar, contrariando a tradição no sentido de desvalorizar o seu trabalho madrugador, começava com o "aquemodar" os recos, mais as pitas, botar o mata-bicho na mesa do homem, puxar as orelhas às roupas das camas, desguiadas pelo sono desatramalhado das noites engaranhadas de frio.
Botava o "lanço" na cabeça, depois do puxo feito apressadamente e estava pronta para botar fora da loije o burro que iria carregar para casa, o fruto da horta verde e ainda orvalhada. Hora de regresso, pelo sol a meio- pau e lá regressava ao lar, faca na desbulha rápida de umas canibeques dentro do pote, já reluzente água e o lume. o presigo logo se veria... em vez da merecida sesta, enquanto o seu homem, o chefe da casa, faria ali na rua as suas preleções sobre o tempo e as luas que iriam vir. Ela fia, ela faz a meia, ela fia..ela..ela..ela..tudo faz para rechear a casa e os filhos do carinho empregue nessas lides...mas isso não é trabalho!
Busca a lenha da noite fria que aí vem, regressa à horta para a nova rega, tira as milhãs e as outra ervas daninhas que hão-de comer mais que o fruto que na terra está...e volta e baixa e seca o suar da fronte vermelha... regressa de novo à guarda das pitas, já adormecidas à porta da capoeira e o reco, bota grão, que um dia engrossará as pás e os presuntos, o presigo para o comer dos trabalhadores e da visitas também. É urgente aprender a "ter governo na casa"!
Contribuidor das poupanças, era a almotolia, com o seu bico longo e estreito. Hoje, é esta geringonça a que a mana chama de "serritchador"!

11 comentários:

  1. este texto fez-me lembrar a Calçada de Carriche do António Gedeão.
    Luísa sobe,

    sobe a calçada,

    sobe e não pode

    que vai cansada.

    Sobe, Luísa,

    Luísa, sobe,

    sobe que sobe

    sobe a calçada.

    Saiu de casa

    de madrugada;

    regressa a casa

    é já noite fechada.

    Na mão grosseira,

    de pele queimada,

    leva a lancheira

    desengonçada.

    Anda, Luísa,

    Luísa, sobe,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada.



    Luísa é nova,

    desenxovalhada,

    tem perna gorda,

    bem torneada.

    Ferve-lhe o sangue

    de afogueada;

    saltam-lhe os peitos

    na caminhada.

    Anda, Luísa.

    Luísa, sobe,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada.



    Passam magalas,

    rapaziada,

    palpam-lhe as coxas

    não dá por nada.

    Anda, Luísa,

    Luísa, sobe,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada.



    Chegou a casa

    não disse nada.

    Pegou na filha,

    deu-lhe a mamada;

    bebeu a sopa

    numa golada;

    lavou a loiça,

    varreu a escada;

    deu jeito à casa

    desarranjada;

    coseu a roupa

    já remendada;

    despiu-se à pressa,

    desinteressada;

    caiu na cama

    de uma assentada;

    chegou o homem,

    viu-a deitada;

    serviu-se dela,

    não deu por nada.

    Anda, Luísa.

    Luísa, sobe,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada.

    Na manhã débil,

    sem alvorada,

    salta da cama,

    desembestada;

    puxa da filha,

    dá-lhe a mamada;

    veste-se à pressa,

    desengonçada;

    anda, ciranda,

    desaustinada;

    range o soalho

    a cada passada,

    salta para a rua,

    corre açodada,

    galga o passeio,

    desce o passeio,

    desce a calçada,

    chega à oficina

    à hora marcada,

    puxa que puxa,

    larga que larga,

    puxa que puxa,

    larga que larga,

    puxa que puxa,

    larga que larga,

    puxa que puxa,

    larga que larga;

    toca a sineta

    na hora aprazada,

    corre à cantina,

    volta à toada,

    puxa que puxa,

    larga que larga,

    puxa que puxa,

    larga que larga,

    puxa que puxa,

    larga que larga.

    Regressa a casa

    é já noite fechada.

    Luísa arqueja

    pela calçada.

    Anda, Luísa,

    Luísa, sobe,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada.

    Anda, Luísa,

    Luísa, sobe,

    sobe que sobe,

    sobe a calçada.

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  2. Obrigada ao amigo pela visita e conteúdo bem a propósito do tema do post.

    Por norma, na casa da aldeia sou eu a cozinheira.
    A mana arruma a cozinha e os panelos todos...
    Mas há algumas refeições que passam inteiramente pelas suas mãos.
    São as deliciosas batatas à espanhola para as quais tem um segredo que não vou aqui revelar, é claro.
    Para o almoço deste Domingo, tinha de ser coisa rápida... tivemos por lá o técnico da tvt ou lá como se chama...falou muito bem: analógico, dbs, sinal de Mirandela ou da Padrela...ó pá, que confusão!
    Adorava saber como se instala uma cena dessas.
    É COISA PRA GASTAR MTO DINHEIRO?
    Avancemos para a omolete da mana. Uma delícia!
    Mandou-me um cibo com o puré (tb com segredo) para eu comer à noite.
    Maravilha!
    abraço a todos os amigos e visitas deste canto desejando uma boa semana.
    leonor

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  3. Ola!!! As batatas a espanhola nao sei mas o pore..ai mama mia que delicia!!!!! E que a Lidinha onde poem a mao faz maravilhas.
    Entao foi homolete de banana? Nunca comi, mas tb nao sou mt de comer ovos...imagino que esteve uma delicia.

    xoxo
    Lula

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  4. sorry pelos errositos mas agora e too late pra safar...carambas os dedos mt escorregam...

    Lula

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  5. Olá,
    O visitante anónimo que transcreveu o poema do Gedeão,sobe e desce diariamente esta Calçada, vai para 33 anos. Para quem não conhece esta artéria de Lisboa, ela liga o Paço do Lumiar à freguesia de Odivelas. Ao longos destes mesmos trinta anos sofreu várias requalificações que a transformaram numa espécie de via rápida para automóveis, retirando-lhe diferente o sentimento poético que inspirou Gedeão. Ao fundo da Calçada ficava a Malaposta hoje um teatro intermunicipal e outrora onde os serviços postais do reino mudavam os cavalos das carruagens. Muito próximo fica o Senhor Roubado, uma espécie de um nicho, ligado também a uma história muito curiosa, passada em Odivelas há uns três séculos atrás.
    Mas ficará para uma outra altura.
    Cumprimentos,
    Nuno Santos

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  6. Olá
    Tenho a dizer que a tua prima Celeste, também faz uma optima espanholada, ou seja as batatas guisadas com bacalhau.
    Sobre o sinal TDT - Televisão Digital Terrestre, como o sinal analógico vai acabar para o próximo ano, quem não tenha televisão por cabo, tem de comprar um pequeno aparelho, ma espécie de uma box, que se liga à televisão, no mesmo síto onde agora se liga a antena exterior, e tem acesso a muitos mais canais nomeadamente os canais espanhois porque já emitem em TDT. Quanto à questão de Padrela ou Mirandela é que Padrela já emite só em Digital, e para quem não tem essa box não vê a SIC.
    Esses aparelhos custam entre os 20 e os 49 euros. Na estrada de Outeiro Seco há um armazém de material electrico, onde trabalha o Duarte nosso conterrâneo, que os vende e dá formação. Eu já comprei o meu para a televisão aí de Chaves.
    Um abraço,
    Nuno

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  7. Olha que se eu sabia desse técnico, o meu mano tê-lo-ia contactado.

    Com o aparelhozito, achas que é necessário mudar a antena exterior?
    abraço à tua Celeste, minha prima
    leonor

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  8. Gostei muito do texto.
    Mas....
    "presigo", será um termo transmontano?
    Eu conheço mais, o PEGUILHO....
    Haverá gente informada, que me diga, se presigo,veio do Minho.
    Lídia Moreiras

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  9. Olá,
    A palavra "peguilho" sendo um transmontanismo que se utiliza para designar os alimentos que se comem acompanhando o pão ou as batatas,curiosamente não aparece nos dicionários on line. Ali os termos mais utilizados para acompanhar o pão, como o presunto ou o toucinho são: "PRESIGO" ou ainda "CONDUTO".
    Isto de ter sido professora dá outra bagagem cultural.
    Cumprimentos,
    Nuno Santos

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  10. Olá,
    A palavra "peguilho" sendo um transmontanismo que se utiliza para designar os alimentos que se comem acompanhando o pão ou as batatas,curiosamente não aparece nos dicionários on line. Ali os termos mais utilizados para acompanhar o pão, como o presunto ou o toucinho são: "PRESIGO" ou ainda "CONDUTO".
    Isto de ter sido professora dá outra bagagem cultural.
    Cumprimentos,
    Nuno Santos

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  11. Nada disso amigo Nuno.
    A Lidinha tem os saberes da terra, que por vezes eu esqueço ou não sei.
    Consultei agora o Dicionário de Trasmontanismos, de Adalmir Dias e Manuela Tender e lá está o termo "PEGUILHO".
    Obrigada
    cmps
    leonor

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